segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Orgulhosamente... (red)


-->Num comboio em hora de ponta não cabe mais ninguém, mas ele vai só... Cada um no seu bocado de transporte com vontade de partilhar, falar ou rir com uma cara nova... Sorriu de dentro do seu livro, daquele bocado de África que lhe chegou no aniversário e onde as colónias ainda são Portuguesas. Ao lado, alguém ouve música fechado num armário de lentes escuras que não deixa transparecer os problemas do dia a dia mas que precisavam de confidentes ou ideias. De pé a moça está incerta daquele namoro que parece uma troca de sentimentos por sexo rápido e pensa que poderia estar pior se estivesse sozinha à noite e não recebesse aquele SMS mecânico a reconfortá-la por saber que alguém se lembra dela.

Tanta gente para tão pouco espaço e tanto espaço tão mal preenchido! Preciso de alguém mas não quero falar ou dar confiança a ninguém ou por outro lado se alguém se aproxima terá obviamente recônditas intenções...
Dependendo da janela por onde se olha o paradigma é diferente, mas sempre restritivo ao contacto de emoções e relações. E depois à noite, ela vai para a TV julgar quem mostra o que nela não tem coragem de assumir... Os outros são maus, mesquinhos, reles, perversos... Mas aquele teu segredo nunca ninguém há-de saber porque as tuas paredes são surdas. Quando o armário se abrir um novo Mundo te irá enfrentar, o opaco dos vidros já não te protege da realidade e aproxima-se a hora de escrever.

A tecnologia aproxima-te de quem não tens coragem de confrontar com a tua solidão...
Ciber-amizades... Tudo tão interessante... Mesmo quem não é o que julgas ser… Subitamente tornas-te interessante e interessa-te saber sobre os outros. Ela procura-o e ele a ela mas não se encontram, não sabem, mas o que precisam estava na mesma carruagem, embora que a milhas de distância protegido pelos muros que levantaram ao sair dos seus cubos. Aqui ninguém me fere, ninguém me atinge. A muralha do meu orgulho é também o buraco negro da tua… Da nossa solidão.

Dlim... Dlim... Dlim... Dlim...
Chegou, ele chegou pela rede... Ainda existo porque não me esqueceram...
Ainda existo porque me amam...

Escorre o sal a tocar no lábio por me ter enganado mais um dia...

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