terça-feira, 13 de abril de 2010

Pontes

Amanhã à noite fui visitar aquela janela, acalmar os espasmos... Castigos a que este corpo se entrega por a minha mente o negar. Queria chegar-lhe através do vidro e mostrar-lhe o poder do que carrego desde que a vi aquela primeira vez. Como feitiço desceu do pedestal e subiu para este colo um vulto do que eu aspirava a ter, pedaços rasgados sem nome do que pintámos nas mãos um do outro... Pairou como que por dias em frente a meus olhos para poder ser adorada, enquanto largava as horas de sono para atravessar um mar interminável de tempo e sentir a perfeição do que não consigo atingir... Minuto a minuto menor era a vontade de partir de volta à terra e maior a de pegar naquela nuvem de presença e fugir para trás de um planeta longínquo para não mais ser encontrado e viver de vapores de existência.

Nessa noite fugiste... Um fantasma de volta à carne, ossos, sangue, querer e crer... Usaste os ténis para que não nos apanhassem e pela mão levaste-me a correr através de uma ria que alimentava a humanidade por uma estrada de betão e nos entregava a uma praia infinita onde a forte ondulação não abafava a correria do meu peito pela coragem do que esqueceste para nos teres. Aqueles barcos que nos vêem conhecem-te e aguardam o teu acenar para pousarem e levarem-te para um mar desconhecido onde apenas tu possas ser vista, alimentada, venerada...

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