sábado, 24 de abril de 2010

Entrada improvável

Encosta o indicador na testa com os olhos cerrados e sente a delicadeza do toque...
Empurra-o um pouco e sentes essa presença mais firme como fazendo-te perceber que existe e não é apenas algo subtil de passagem...
Pressiona, já começa a fazer doer a pele como de uma presença que inexplicavelmente não deveria de tentar entrar por ali...
E de um momento para o outro... Com um último empurrão forçado... Um bala atravessa a barragem.
Um impacto aligeira as rugas de expressão provocadas pelo sofrimento de sentir um dedo a ser empurrado no sentido errado. Entrou...
Navega e envolvido por líquidos e cérebro começa a tocar num novo mundo... Tem ligações às recordações... Ah aquele dia na praia... O aniversário à chuva... A adrenalina da descida... O frio daquela ponte... A mão entra pelo occipital e começa a ensopar-se nas cores da vida que foi, e sente visões tremidas como que mal focadas do que tem planeado fazer... O carro... As férias... A mulher... A casa... Palavras demasiado simples para situações que se vêem a desenrolar demasiado completas e sem caras, nomes ou marcas... Preto e branco é o futuro como um livro de colorir para crianças, parece que apenas existem linhas delimitadoras dos personagens, objectos e locais... Rodo o indicador para a direita e vejo uma montanha que não conheço mas que parece ter sido impresso deste lado das vontades por algum postal perdido num expositor de rua... Já do outro lado o polegar deixa envolver-se pelo frio de um 5 de Novembro por entre cabelos molhados e que foi o apogeu de uma idade volvida com um verdadeiro marcador de página para sempre recordar... Eu sou quem gosta de mim... Tu és quem gostarias de assim ser... Ela por entre assobios mete a mão num pão de ló envolvido em chantilly barato e creme de ovos vencido.

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